quarta-feira, 1 de julho de 2015

C2C - Coast to Coast - um local para a aventura

Ora vamos lá a isto, esta é a minha primeira experiência a escrever num blog por isso por favor tenham paciência comigo. Ainda por cima, também já não escrevo um texto decente em português há uns bons anos pois emigrei para Inglaterra em 2011, antes do famigerado acordo ortográfico. Consequentemente, este texto está escrito em português pré acordo. Assim, as criancinhas/jovens que leiam isto podem ter dificuldades em seguir o texto.

O Bycycling2012blogspot pediu-me para descrever a experiência que é a Coast to Coast, (C2C para os locais que gostam de abreviar tudo). A C2C é provavelmente a rota ciclística mais conhecida do Reino Unido e como o nome indica é uma travessia costa a costa. Sendo uma ilha, há diversas travessias em vários pontos, mas esta é uma das favoritas por diversas razões que explico abaixo.



Mapa das ciclovias que compõem a C2C

Inglaterra é um país excelente para o ciclismo. Tem um sistema de ciclovias que faz inveja a qualquer país do mundo. Chamam-lhe National Cycle Network (NCN) e consiste numa rede de ciclovias que atravessa o pais de lés a lés providenciando aos ciclistas rotas com poucos ou nenhuns carros onde o foco é o ciclista (ver mais sobre a NCN em http://www.sustrans.org.uk/). A C2C aproveitou-se desta infrastrutura para desenhar a sua própria rota.


 Ciclovia à saída de St Bees – dá gosto ciclar assim!


A C2C para ciclistas foi criada em 1994 tendo sido inspirada por uma rota pedonal traçada por Alfred Wainwright em 1973. A rota original tinha 309 kms começando a Oeste em St Bees e acabando a Este em Robin Hood’s Bay enquanto que a rota ciclistica mais usada começa em Workington acabando em Tynemouth compreendendo 230 kms.  Diz a tradição que temos de levar um pequeno seixo connosco que depois depositamos na margem oposta.

 O pequeno calhau apanhado na praia de St Bees.

O pequeno calhau na praia de Robin Hood’s bay. 
(como cheguei numa maré baixa tive de caminhar uns bons 500 m 
para deixar a rocha mesmo em algo que se parecesse mar)

A C2C consegue acomodar diversos níveis de fitness sendo possível de fazê-la num dia (para os completos fanáticos), 2 dias para os razoavelmente em forma, 3 dias para o comum mortal apreciando as vistas e 4 ou mais dias para quem utiliza a rota como um roteiro gastronómico ou umas férias bem relaxadas.

A principal atracção da C2C reside no facto de passar pelas mais belas zonas de Inglaterra. Primeiro o Lake District, com uma beleza natural apenas ultrapassada na Escócia. Depois os North Pennines fazendo-nos pensar que afinal Inglaterra não é assim tão populada e exibindo uma extensão considerável de área quasi virgem.

Em termos logísticos fazer a C2C tem os seus desafios. Principalmente como chegar ao local de partida e como sair do local de chegada. Os famosos caminhos de ferro Ingleses não são os mais fáceis de combinar com a bicicleta por isso conseguir apanhar um comboio com uma bicicleta é mais um caso de sorte do que de bom planeamento e sabedoria. Não há pré-marcações e o comboio leva no máximo 2 bicicletas (independentemente do número de carruagens!).

Talvez melhor alternativa seja a de alugar um carro deixando-o no ponto de partida e depois fazer o mesmo á chegada. Infelizmente esta opção limita a escolha do local de partida e chegada. Dos pontos de partida apenas Workington tem empresas Rent-a–car.  Pode-se sempre ciclar daí até ao ponto de partida desejado e depois então começar a rota oficial. À chegada, em Tynemouth (junto a Newcastle) ou em Sunderland há várias empresas rent-a-cars por isso esta opção acaba por ser bastante prática para o regresso. As rent-a-cars em Inglaterra são relativamente baratas e por um dia de car rental com drop-off a 300 kms de distância do ponto de recolha cobram cerca de £50 (cerca de €70 à cotação actual).




Em relação à estadia a coisa é mais fácil. Existem inúmeros sítios para ficar e com excelentes condições para as pessoas e para as nossas queridas bicicletas. Aqui pode-se ficar desde hóteis de luxo a simplesmente acampar. Talvez o melhor compromisso sejam as pousadas que estão preparadas para os ciclistas com um nível de conforto bastante bom e sem o risco de que a chuva ou vento nos leve a tenda. Acreditem que independentemente da altura do ano em que escolherem fazer a C2C o mais provável é que chova, faz parte da experiência... Por isso acampar é uma opção que requer a devida consideração. Das duas vezes que fiz a C2C acampei na primeira vez e na segunda usei pousadas. Acampar é a opção mais barata com cerca de £5 a £8 por noite, mas são normalmente apenas quintas que decidiram abrir um dos campos para a malta montar a tenda. Ter duche e uma sanita só nos parques mais requintados. As pousadas custam entre £20 a £30 por noite... mas incluem pequeno almoço e o tão desejado duche!  





No caminho há algumas opções off-road para quem assim preferir… pois claro eu prefiro!
(aliás há uma rota inteiramente off-road mas engloba, nalgumas secções, carregar a bicicleta às costas. Eu sou todo por BTT, mas Btt-alpinismo não é bem para mim).



À saída de Alston após a subida mais dura da jornada

Não nos devemos esquecer de parar de vez em quando para beber um chá 
e apreciar a paisagem, afinal, a C2C é sobre a viagem, não sobre o destino

Sobre o caminho propriamente dito, é bastante acidentado com um total de 3300m de acumulado. Looking on the bright side, com belas subidas vêem belas vistas e aquela sensação de que o que sobe também tem de descer. Assim, um desafio interessante é o de como dividir o percurso de forma a equilibrar o acumulado. Fica a sugestão para o percurso feito em 3 dias:



Perfil topográfico 

Dia 1

Dia 2

Dia 3




1900 feet não é muito (não chega a 600 metros)… mas após 8 horas a ciclar 
com vento contra acreditem que parecia que estava a atravessar os pirinéus

Parte da ciclovia à saída de Keswick, uma estrutura em
 madeira que nos leva sobre o rio, delicioso

Um dos muitos pontos para aproveitar a vista,… e beber mais um 
cházinho que a maior parte das vezes calha mesmo
bem para nos aquecer mais um pouco

Como disse acima, o caminho é feito maioritariamente utilizando quer ciclovias exclusivas para bicicletas quer vias secundárias onde apenas tractores e alguns carros de pessoas locais passam. Coisa mais tranquila é difícil de encontrar. O maior tráfego que vão apanhar são ovelhas e vacas junto ás bermas da estrada a pastar. Isto soa mais a interior transmontano do que busy England mas é assim.

Também, ao contrário do que se pensa, os Ingleses são simpáticos! Onde quer que parem podem pedir água ou direcções a quem quiserem. Nesta parte mais relaxada do país todas as pessoas estão disponíveis para ajudar e eles adoram dois dedos de conversa com totais desconhecidos. Vocês podem é não perceber o que vos dizem... são precisos alguns anos de treino para perceber o sotaque de pessoas nesta região (quase Escócia) e quando chegarem a Newcastle...esqueçam, o Jordi accent é engraçado mas mais ou menos como Açoreano cerrado (desculpem-me os Açoreanos). Não é surpresa que a maioria das piadas inglesas incluem alguém de Newcastle (ou Birmigham) como o bobo da anedota. Tenham paciência pois é muito boa gente e mais cedo ou mais tarde lá percebereis o que vos dizem.

Bem, a título de conclusão, a C2C é uma excelente experiência. Oferece paisagens fantásticas com desafios interessantes. Se gostam de campo e de prados verdejantes então não há que enganar. O caminho é tão variado que fazê-lo em alturas diferentes do ano parecem diferentes caminhos. Quanto a mim… já estou a planear a próxima C2C, vai ser ainda este ano!

Low Altitude Flying