domingo, 26 de agosto de 2012

Velomobiles (III) - Cab-Bike



O Cab-Bike foi inicialmente desenvolvido na Alemanha (aparentemente por Reihold Schwemmer), apresentando as mesmas características essenciais de todo os outros dois velomobiles que já referi (o Alleweder A4 e o Quest): protecção contra os elementos, um chassis monocoque, suspensão integral protecção da transmissão, espelhos retrovisores, luzes e piscas (ou, pelo menos, a opção de os obter).

 Fotografia do actual Cab-Bike, comercializado no Canadá pela Bluevelo.com

Adicionalmente, o Cab-Bike tem, ainda, um habitáculo totalmente fechado, o que lhe oferece uma protecção adicional contra a chuva, o vento e o frio, mas tem a desvantagem de não permitir ao ciclista um arrefecimento tão eficaz.

Fotografia lateral de uma versão mais antiga do Cab-Bike

O que equivale a dizer que, à partida, o Cab-Bike não é particularmente adaptado à nossa condição mediterrânica. Mesmo com 10º C é aconselhável andar com pouca roupa, como uma t-shirt e uns calções curtos. Apesar de a janela da frente descer toda até abaixo permitindo que o ar arrefeça o ciclista, a aerodinâmica do Cab-Bike, que já de si não é das melhores no mundo dos velomobiles, fica prejudicada.


Sendo fechado acaba, também, por ser mais ruidoso do que um velomobile em que a cabeça do condutor vá fora do habitáculo.

Os pontos mais positivos deste velomobile são o espaço de bagagem que oferece, uma sensação de maior visibilidade (quer relativa ao trânsito, quer também do trânsito em relação ao velomobile) e a protecção integral contra a chuva, o que, conjuntamente com o limpa-para-brisas manual permite a utilização do Cab-Bike durante todo o ano.

Vídeo exemplificativo da capacidade que o Cab-bike 
tem para transportar as compras

O Cab-Bike pesa cerca de 32 kg, o que não o torna particulamente pesado (relembro que o Alleweder A4 pesa 34 kg e que o Quest pesa 34,5 kg) mas, atendendo à sua menor eficácia aerodinâmica, apenas se consegue manter uma velocidade confortável de circulação (em plano) de até 34,5 km/h.


Há o caso de um dono de um que refere no seu site que o utiliza diariamente, com assistência eléctrica da Bionx, e que apenas refere que, no seu caso, a assistência apenas funciona para os arranques e acelerações - até às 20 milhas por hora (cerca de 32 km/h) - sendo que a sua velocidade de cruzeiro é de 34,5 km/h.

Aconselho a retirar o som do vídeo porque 
este ciclista tem o hábito de ir sempre com o rádio ligado
 (e não o desligou para fazer o vídeo!)


A propósito de assistência eléctrica, o kit que nós temos cá em casa é o BionX PL 250 HT XL, com uma força imensa (high torque) e com uma autonomia de até 110 km, que comprámos na Cenas a Pedal.

Posso assegurar que tem força mais do que suficiente para dar a assistência a um velomobile por mais de 50 km: eu e a minha cara metade já tivemos o motor acoplado a um triciclo tandem reclinado que pesava 50 kg e conseguimos ir (e voltar), por exemplo, de Idanha-a-Nova a Monsanto. E se o nosso triciclo duplo sozinho já pesava 50 kg (mais 18 kg do que o Cab-Bike), acrescentando o peso de dois adultos - tudo num conjunto de cerca de 200 kg -, posso dizer que o BionX se portou muitíssimo bem. Com efeito, são cerca de 1000 metros de subida acumulada e, se não estou em erro, a nossa média foi de 24km/h.

A parte final da subida à chegada a Monsanto foi feita só comigo e o triciclo, pois o BionX não conseguia puxar os 200 Cab-Bike kg naquela inclinação toda. Ainda assim, foi espectacular!


À semelhança dos outros velomobiles, os  travões do Cab-Bike são também de tambor; elimina-se, assim, quase a necessidade de manutenção mas o tacto
é mais esponjoso e a capacidade de travagem é menor em relação aos travões de disco.

Não consegui descortinar qualquer vendedor de Cab-Bike na Europa, pelo que o preço de cerca de € 7.936,00 (com assistência eléctrica incluída) é meramente informativo (9.850,00 dólares canadianos).

Não é o velomobile dos meus sonhos, mas não deixa de ser uma óptima solução para ir para o trabalho - posto que tenha assistência eléctrica!

sábado, 18 de agosto de 2012

Velomobiles (II) - Quest


Desde há muito que admiro o Quest e há imensos dados e informações que queria partilhar. Contudo, na presente mensagem apenas descrevo de forma simples as suas melhores e piores características.

Começando pelas melhores características do Quest: o seu aspecto aerodinâmico e rápido, o equilíbrio que os engenheiros da Velomobiel.nl conseguiram alcançar entre performance, conforto e capacidade de ser utilizado em situações práticas do dia-a-dia.

Este Velomobiel tem, definitivamente, um efeito "eu quero um" que justifica o estrondoso sucesso que tem - tanto na Europa como nos Estados Unidos da América.


 
Quest
Imagem do Quest presente no site do fabricante Velomobiel.nl


Ao nível do aspecto o Quest tem umas linhas aerodinâmicas em que a forma de gota é bastante exacerbada, sendo muito longo (com 285 centímetros), pouco largo (com 76,5 cm) e bastante baixo (com 87 cm).

Ao contrário do Alleweder A4, que é praticamente todo feito em alumínio, o Quest é essencialmente composto por fibra de vidro (ou carbono, na versão Carbon) com alguns reforços em alumínio.

Esquema da estrutura do Quest retirada do sítio bicycles.net.au


O peso do Quest é ligeiramente superior ao do Alleweder A4, pesando 34,5kg, mas a sua eficácia aerodinâmica é superior, sendo em geral mais rápido do que aquele.

Para se ter uma ideia da eficácia aerodinâmica destes Velomobiles, um esforço equivalente a 100 watts o Quest pode atingir em linha recta uma velocidade de cerca de 34 km/h (numa bicicleta de estrada, na posição mais rebaixada, nos dropbars, o mesmo esforço permitiria uma velocidade de 27 km/h). Estes dados constam do estudo "The Velomobile as a Vehicle for More Sustainable Transportation" de Frederik Van De Walle.

Nas descidas, devido à aerodinâmica apurada, o Quest pode atingir velocidades vertiginosas. Veja-se o vídeo seguinte, em que são atingidos 116 km/h.

Para que se perceba como o Quest é rápido - mesmo por comparação com outros -  vejam com atenção do minuto 4:00 até ao 4:15 e notem como ultrapassa um outro velomobile que parece quase parado.

Vídeo de um Quest na Roll Over America (ou ROAM) a cerca de 116 km/h)

O conforto do Quest também costuma ser apontado pelos seus proprietários como uma das grandes vantagens desta máquina, que lhes permite fazer jornadas de mais de 200 km sem um esforço sobrehumano.

Tanto o Alleweder A4 como o Quest têm o desviador traseiro na posição tradicional de uma bicicleta (junto da roda traseira), pelo que é possível adaptar kits de assistência eléctrica como o BionX, o Crystalyte ou o Magic Pie.
 
 Um Kit da Bionx instalado no Go-one

 Um kit da Crsytalyte instalado no Go-one

 
Kit Magic Pie da Golden Motors Instalado numa bicicleta comum

A utilização de assistência eléctrica nos velomobiles é, no entanto, repudiada por muitos que consideram que esta só aumenta o peso do velomobile que, em regra, circula acima da velocidade limite da assistência eléctrica dos velocípedes: 25 km/h (cfr.o artigo 112.º, n.º 2, do Código da Estrada Português).

 Pessoalmente entendo que essa argumentação fará sentido em países muito planos e em deslocações que não tenham muitas paragens e arranques. No entanto, para percursos de e para o trabalho através de zonas montanhosas ou com muitas paragens (como é o caso do trajecto de Torres Vedras para Lisboa, ou o de Oeiras para Lisboa), a assistência eléctrica é fundamental para se poder acelerar sem esforço e, talvez ainda mais importante, para poder abrandar o velomobile nas descidas com a travagem regenerativa.

Uma outra boa característica do Quest é o grande espaço para  bagagem (cerca de 100 litros).

Vídeo demonstrativo da capacidade de bagagem e do tipo de acomodação para as compras
 (eu preferiria utilizar sacos para acomodar as compras mais pequenas)

Como pontos negativos, podemos  talvez indicar o preço e a brecagem reduzida (de cerca de 11 metros).

O preço desta máquina é substancialmente elevado, em particular se considerarmos a possibilidade de assistência eléctrica: o preço de venda do Quest já com luzes e bateria incluídos, mas sem os custos de envio, é de € 5.950,00 (IVA incluído); o preço da assistência eléctrica pode oscilar entre os € 800,00 e os € 2.000,00.




quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Velomobiles - Alleweder A4

Quando referi as bicicletas reclinadas apenas referi que elas podem ser muito diferentes umas das outras.

 O "mundo" da bicicletas reclinadas é, no entanto, mais amplo do que o termo "bicicleta reclinada" pode dar a entender.

Desde logo por também poder incluir triciclos reclinados como os KMX ou os ICE.

Pode incluir também algo que na sua essência é um triciclo reclinado, mas que tem (ou antes, pode ter) suspensão integral e uma carenagem (ou cobertura) aerodinâmica que lhes permite rolar enormes distâncias e a velocidades elevadas: o Velomobile.

Os  Velomobiles são utilizados principal e essencialmente para fazer deslocações pendulares para o trabalho em quaisquer condições climatéricas. É comum referir-se que pelo respectivo conforto e velocidade se situam entre o automóvel e a bicicleta, pois são mais rápidos e confortáveis do que esta e mais lentos do que os automóveis (na estrada e não necessariamente no percurso a realizar).


Em Portugal - que não prima pela planície - é (muito) discutível se estes triciclos reclinados são efectivamente mais rápidos do que uma bicicleta leve de estrada, pois apesar de conseguirem rolar facilmente acima dos 40 km/h em plano (com ou sem vento frontal), perdem muito tempo a fazer as subidas.

Estou em crer que o mix vencedor será um Velomobile com assistência eléctrica.

Há muitos Velomobiles diferentes pelo que uma única mensagem que os abrangesse a todos seria ou muito longa (e, logo, aborrecida de ler) ou muito pobre.


Nessa medida, é mais adequado apresentar um Velomobile de cada vez e é  ao veterano Alleweder A4 que cabe a honra começar.

O nome Alleweder tem origem no holandês que pretende significar uma utilização perante quaisquer condições atmosféricas.

Alleweder A4 actualmente vendido pela Alligt.nl


Este Velomobile foi primeiro criado no final da década de 80 por Bart Verhees e foi comercializado pela Flevobike de 1992 a 2000.

O Alleweder A4 é todo feito em alumínio e tem suspensão nas 3 rodas que são todas de 20 polegadas.

Os travões de tambor que tem são adaptados a territórios planos e húmidos, tendo uma manutenção muito baixa mas podendo aquecer perigosamente num território com uma orografia como a nossa.

É que os Velomobiles, por serem aerodinâmicos e relativamente pesados (este pesa cerca de 34 kg com as luzes e respectiva bateria já incluídos) ganham velocidades muito elevadas em inclinações acentuadas e, consequentemente, os travões de tambor que têm acabam por sobreaquecer e perder eficiência.

Numa descida prolongada alguns Velomobiles podem atingir velocidades superiores a 100 km/h, pelo que para os poder parar são necessários travões muito potentes.


Há mesmo quem utilize "mini-para-quedas" para abrandar os seus Velomobiles nas zonas montanhosas. Este vídeo que aqui partilho é de um outro Velomobile de 2 +1 pessoas, o DuoQuest que (infelizmente) não é nem nunca chegou a ser comercializado. Acreditem, eu perguntei...

Neste vídeo, em que o DuoQuest tem um para-quedas. 
A pessoa que filma vai numa bicicleta reclinada dupla a pedalar virado para trás: 
uma back-to-back tandem



De acordo com a informação que a Alligt.nl tem no seu site, o Alleweder A4 pode ser comprado em kit para se montar por desde € 2.845,00 ou já montado pela Alligt.nl por desde € 3.995,00 (os preços indicados já incluem o IVA mas não os portes de envio).

Montar o kit é uma coisa trabalhosa e na minha opinião tem muito por onde correr mal. Para que se perceba melhor o que quero dizer, veja-se o seguinte vídeo:

 
Montagem do kit do Alleweder A4

Este é um Velomobile que, apesar do seu design um pouco fora de moda e de uma aerodinâmica pouco apurada (por comparação com os seus concorrentes), tem muitos apreciadores e tem alguma receptividade no mercado de usados.

Talvez o preço (cerca de € 2.000,00 mais barato do que outros, como o Quest ou o Mango) explique o sucesso do Alleweder A4.



Low Altitude Flying